Ponto de fuga

Um dia vou traçar uma reta

Uma linha incerta

À mão livre... no sentimento

E nesse momento

Por ela seguir

Sem o recurso da régua

Vou deixar fluir...

Será minha trégua

Numa estrada em aberto

Meu croqui em aquarela...

E se um vento invadir os meus traços

E se as folhas encobrirem meus passos

E uma ventania revirar meu papel

E um grão de areia virar um cisco

Eu pingo uma lágrima do pincel

Prá enganar a dor do risco...

E sigo em frente

Em busca do tal infinito

Num azimute qualquer

Numa linha do horizonte

E num ponto de fuga

Encontrar um refúgio

Um bater de asas na tela

Branca, azul ou amarela

Que aos meus olhos possa surgir

Como a janela de Adélia

E quem sabe por ela

Eu possa fugir...

(...Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,

clarabóia na minha alma,

olho no meu coração... Adélia Prado )