Tudo para nada

Não quero apertar o gatilho

Desta arma que surgiu em minha mão

Não tenho coragem

E nem características heróicas.

Não quero ingerir este veneno fatal

Poção dada por um anônimo

Não tenho coragem

E sou avesso a líquidos amargos.

Não quero ser o corpo receptor de balas perdidas

As perfurações inesperadas me deixam entristecido

Não freqüento as filas de ônibus

Nem passo por bares congestionados.

Não quero ser abordado por meninos de rua

As abordagens violentas me assustam

Não me preocupa vagar pela madrugada

E nunca a “Polícia Militar” me revistou.

Um santo de barro exposto ao mundo

Juras e mais juras

Confissões e devoções

Um ser especial

Muito especial

Um santo de barro exposto ao mundo.

Moléstia contraída de um vírus celestial

Inferno para os poucos neurônios tempestuosos

Crânio invadido e chacoalhado

Unanimidade dos átomos universais.

Não costumo carregar armas brancas nem pretas

Jamais me ameaçaram de morte

E as fatalidades se assustam ao me ver.

Um cordão sagrado no pescoço do devoto

Orações e mais orações

Perdões, flagelos e abandono...

Uma bela face sorrindo e os olhos petrificados

Um belo olhar atencioso e os lábios secos

Um belo abraço amistoso e as mãos frias

Uma bela veste lilás e o corpo escondido.

Uma bela face atenciosa

Convite sem alarde ou fantasias inoportunas

Um belo olhar sorrindo

Cicerone para um turista desavisado

Um belo abraço lilás Flores e tecidos para vôos prolongados

Uma bela veste amistosa

Repouso para um ex-santo de barro

Droga para uma doença sem cura

Refresco para um corpo quente e vulnerável.

Lágrimas

Desmaios

Emoção, muita emoção

Mais lágrimas e mais desmaios

Um corpo estendido numa morada alimentícia

Vermes

Muitos vermes festejando o banquete.

Lágrimas

Desmaios

Emoção… Tudo para nada...