Não tenho armas

A agonia e o transe me convidaram a apontar a arma

Que eu mesmo limpei e calibrei

Para o meu próprio crânio

Receptivo às balas da verdade.

Não chamo a isso de suicídio físico

Tampouco covardia entre tantos errantes

E declaro ser um espetáculo da matéria putrefata

Que compõe esta nossa massa falida.

Aos julgadores seria apenas um julgamento próprio

Apontam para mim o dever do livre arbítrio

Tomar decisões claras e, sobretudo, livres:

Uma foice estripa a erva daninha.

O que a tantos parece um símbolo de insanidade

Fuga dos problemas que aparentemente não têm solução

A mim se escancara a hipocrisia dos “donos da verdade”

Poder que desafia os chamados e escolhidos

Escolha criada por seus próprios julgadores.

Não há agonia, nem transe

E também não possuo arma alguma

A não ser neurônios inconformados e sedentos

Por desmistificar todos os mitos da verdade.

Nunca apreciei pistolas automáticas

Nem me vejo carregando as tais armas brancas

Não me atreveria inspecionar suas miras

Tampouco usaria água límpida para limpá-las.

Meu crânio guarda consigo um cérebro que observa

Jamais se atreveria a ter impulsos violentos

Nem contra si tampouco contra alguém

Mesmo sabedor que é das falácias humanas.

Então, se restringe a utilizar a sua livre passagem

E caminhar em “câmera lenta” por todos os corredores.

Os que se dizem normais

Estes sim, passam lentamente por processos suicidas

Minam passo a passo seus inexpressivos cadáveres

Com tramóias e ocupações sem fundamento.

Os que se dizem seguidores da divindade

Maculam suas existências com caprichos dogmáticos

Seguem com os olhos internos fechados

E os tais olhos que formam olhares externos

Incompreensivelmente abertos…

Seguem leis criadas a partir das suas próprias necessidades

Condenam segundo as suas próprias versões do crime

Aniquilam qualquer possibilidade de julgamento

Ostentam o poder de conhecer a verdade

Falsa ou verdadeira? Não sei

Apenas movimento os meus membros superiores e inferiores

Quando sinto a necessidade de me movimentar.

Não, não tenho armas letais

Nem para uso próprio

Nem para fuzilar possíveis infratores

Aliás, não tenho arma mortal alguma...