Vírus e vícios

Meu fígado produz bílis existencial

Sentimentos extraídos dos seus lábios secos

E meus rins jorram ações fúnebres

Presos por eu estar preso aos seus olhares.

Seus dentes mastigam o alimento fétido

Que apodrece a cada suspiro

E aquele ar poluído

Expirado por tantos pulmões decadentes.

Meu cérebro se expande por razões múltiplas:

Intestinos falando em nome de corações estraçalhados

Gastrites ecoando pensamentos ácidos

Axilas exalando odores putrefatos.

Carrego comigo alguns vírus incubados

Um para cada imbecilidade humana

Alguns, até mesmo guardo secretamente para futuras atrapalhadas.

Passo por uma medicina preventiva

Banalidades adquiridas por uma cobaia voluntária

E ao menos não haverá estresse

Somente vermes já conhecidos.

Um cesto enfeitado no canto da sala

Folhas e matos esmagados num processo natural

Conhaque da melhor procedência

Bambus resgatados de matas selvagens.

Um mar agitado e fugas alucinantes

Processo evoluído de antigas confraternizações

Relações humanas contemporâneas, com primatas da selva

Conhecimento pleno dos poderes universais…

Cesto, ritual, pajé, primata, selva e poder contemporâneo…

Inspiração de morte vinda do sol e da lua

Controles absolutos do fluido sangüíneo

Marca de um ser avesso aos princípios

Órgãos inúteis para humanos inúteis…

Carrego tais vírus

E desfruto dos frutos de tal cesto

Ciente que a morte é avessa a tais princípios

E então, vírus e vícios...