Arma de brinquedo

Tenho uma arma apontada pra mim

O cão está armado

Pronto para o disparo

E nunca imaginei que estes poucos segundos

Representassem o que representam: a eternidade.

Passam imagens que estavam dormentes

Pessoas e fatos já esquecidos

Fotografias instantâneas da vida

Luzes se confundem com trevas

Confusões com calmaria

Braços tomando o lugar de pernas…

Nuvens carregadas… Nuvens de algodão… Nuvens de gafanhotos…

Um oceano agitado

E outro manso como um lago

Maré alta e maré baixa… maré baixa e maré alta…

Soldados marchando numa parada militar

Civis aglomerados aos empurrões

Vidas que se embaraçam e se embaralham…

Um arquivo inesgotável de faces

Faces até então ocultas

Porém, conhecidas de outros carnavais…

Vejo um barco a naufragar

No outro horizonte, que se imagina perdido

Um avião a decolar

Gritos de bebês famintos

Mortes por balas perdidas

Violência e festival de hipocrisia…

A eternidade que este intervalo representa

Reflete reflexos no meu cérebro

Que acorda para a vida…

As fotografias me estimulam a não viver

As imagens e os fatos já não mais se confundem

A luz mostra o fim de um túnel

Claridade e música

Não mais com trombetas, afinal, basta destes anjos medíocres.

Tinha uma arma apontada pra mim

Joguei-a no lixo, aliás, ela era de brinquedo...