Danem-se!...

O que resta a mim

A não ser o fosco brilho das letras

O movimento frenético dos automóveis

Ou o ruído solene dos gaitistas?

O que resta a mim

A não ser cumprimentos e elogios

Desaforos e críticas

Ou um sonho não lembrado?

O que resta a mim

A não ser o consolo dos meus filhos

O apoio de alguns amigos

E o sorriso de todos os cachorros?

O que resta a mim

A não ser terminar o poema inacabado

O romance deixado de lado

E o conto que nunca tem fim?

O que resta a mim

A não ser olhar para olhos que não me olham

Canções que não sei dançar

E dramas da vida moderna?

Sou fraco aos meus próprios anseios

Luto com armas carregadas de balas de festim

Meus cabelos brancos mostram o tempo

Que perdi com banalidades

Futilidades desastrosas a todos

Contaminador de almas que se aproximaram…

Sou fraco e franco aos meus próprios anseios

Resta-me, então, apenas a claridade da escuridão

Vivo a minha própria metáfora

Uma vida em forma de sonho

Irreal aos limites das sentenças…

O que resta a mim:

Finalizar sinfonias fúnebres

Freqüentar velórios das minhas atitudes

Ou esperar que o pranto inunda o meu poço seco?

O que resta a mim

A não ser tragar a última molécula de nicotina

Beber a última gota do líquido da vida

Ou comer o pão amassado por mim mesmo?

Interrogações que cercam um ser independente

Livre...

O que resta a mim?

Não sou eu que me questiono

Nem estes rótulos me pertencem

Então, reste o que restar… Danem-se!...