herói no espelho

então...

quem sou eu...

alguém que

sinceramente

gostaria

gostaria de fazer a diferença

salve quem sabe voar a todo o instante

salve quem arrisca a vida por baleias

salve quem atira coquetéis molotov

quem ama o mundo e as pessoas

quem o faz sem se apaixonar

quem vê as coisas

muito além da lente do próprio umbigo

além dos cento e oitenta graus nublados

mas quem sou se esforça

e luta contra o motor da mediocridade

essa máquina

que nos transforma todos em merda

quero aquilo que não tenho

até me emociono e compadeço

derramo lágrimas sinceras pelo alheio

porém, meu verdadeiro pranto

é pelo anti-herói que há em mim

o intelectual incipiente, pseudo-sábio

o herói incipiente, herói sem rosto

o desconhecido

artista rupestre de egoísmos

arquiteto de desculpas

a pálida dúvida

que atormenta

aniquila

pálida como sangue desmaiado

a dúvida que é um deus

um deus mau e blasfemador

minha dúvida deusa e irmã

a desconstruir

meus instintos genéticos

herméticos como maldição

sutis como maldição

minha dúvida

que é o meu oxigênio

vital e envenenado

quem sou?

sou o martelo

contra minha própria cabeça?

sou o flashback em forma de pão?

sou o manjar dos demônios?

sou o holocausto no tabernáculo?

sou o chipanzé vendo TV?

sou o papagaio poeta?

o destruidor de mim

a poeira de mim

a argamassa de mim

a construção da estrela que virá.