As batatas

O lampião que marcava com sombras

A escura face clara de sofredores anônimos

Iluminava o alimento da vida

Cultivado à beira dos seus próprios passos.

O espaço dividido por seres sem esperança

Embora esperançosos por fatos novos

Mostrava-nos o cotidiano dos excluídos da corte

Dinastias que se revezavam no poder estabelecido.

As janelas saíam à procura do universo

Mesmo que fosse um minúsculo principado

Porém, os vidros teimavam em refletir apenas a escuridão

E, às vezes, o brilho opaco das estrelas

Que desapareciam na imensidão.

O teto trazia consigo o frio e a angústia

Processo evolutivo de rebaixamento

Contato da umidade da natureza

Com as pobres almas daqueles desfalecidos.

Batatas que saíam da terra à procura de estômagos

Famintos por trabalhos braçais de semi-escravidão

Batatas assadas e quentes

Estômagos sedentos pra sobreviver.

Apenas mais alguns comedores de batatas...