Ficamos no se...
A era atômica passou e nos deixou sem rastro
Vivíamos em pânico com os devastadores botões
Contávamos, alucinados
As ogivas americanas e soviéticas:
Quantas vezes a terra seria destruída?
A guerra fria vestida de amazonas do apocalipse
Esconderijos atômicos escondidos para o grande final
Aviões atravessando o limite do céu e das fronteiras
Submarinos fantasmas num clima de suspense e de terror.
Qual será o dia de Sodoma e Gomorra contemporâneas?
Medo, paúra e ideologia
Teologia, fracasso e náusea
Cogumelo…
Curiosidade em saber como seria
E o que restaria?
Torcida e ansiedade
Tecnologia
Último dia
Um dia depois... nenhum dia depois.
Não haveria mais seres vivos sobre a terra
As batidas cardíacas não sobreviveriam
Apenas pulsariam as descargas elétricas.
Radioatividade, caveira e símbolo atômico
Destruição, anarquia e modelo.
Não houve a guerra nuclear
Ficamos no se...
Aprendemos a matar sem destruir
Exterminar sem deixarmos vestígios
Aniquilar sem bombas ou qualquer arma.
Somos frutos de uma árvore sem vida
Sombria, porém sem sombras ou luz
Saiu o cogumelo e entrou o hambúrguer e a coca-cola
Enterraram os espiões ideológicos
E criaram os espiões tecnocratas.
Bolsas de Valores e papéis substituindo o ouro
Lastro de mentiras e de falcatruas
Enxurrada de bugigangas e besteiras.
Consumir e consumir e consumir...
Comer o pão de trigo e abandonar a broa
Beber a água suja e reprovar o guaraná
Exportar minério de ferro e importar o aço
Abandonar as usinas hidrelétricas e construir “Angras”
Falar inglês americanizado e desaprender o português.
Consumir e consumir e consumir...
Não houve a guerra nuclear
Somos mendigos sem esmola e sem latinha
Ficamos no se...