"GeoGeriatria" =Crônica Rimada=
Ele andava mesmo muito assanhado
O tempo todo só pensando em mulher
Ao mesmo tempo ficava desanimado
“Tô velho. Será que alguma me quer?”
Andava todos os dias a esmo na capital
De carro, de trem, ônibus, até de metrô
A juventude que encontrava até era legal
“Sente-se aqui, tio” ou “Sente-se, vovô”
Não aceitou a velhice. Achava cedo ainda
Pensou onde bem melhor poderia viver
Não exigia ter uma mulher jovem e linda
Apenas alguém capaz de o compreender
A vida apressada da capital não ajudava
Umas às outras as pessoas não reparavam
Via só o medo se alguma lhe interessava
A verdade, eram dois que se assustavam
Um dia teve uma idéia que achou genial
Arrumaria as malas, da capital se mudaria
Mudaria pr’uma cidade qualquer do litoral
E sua vida, muito certamente, melhoraria
Desceu a serra em dia de sol escaldante
Dirigiu dezenas de quilômetros até Santos
Ao chegar, achou a cidade deslumbrante
Não cansavam seus olhos tantos encantos
Voltou à capital algumas semanas depois
Pôs à venda o que acumulara trabalhando
A casa e o carro. Logo negociou os dois
Ternos, gravatas, sapatos, acabou doando
De bermudas, sandálias, camiseta cavada
Nada de relógio no pulso ou compromissos
Conheceu muita viúva simpática, animada
Arranjou, gostosamente, alguns “enguiços”
Rejuvenesceu por dentro, também por fora
Andando sossegado pelo belíssimo calçadão
Até sem perceber, faz ginástica a toda hora
Anda, nada, conversa, não sente a solidão
Um dia na fila do supermercado a alegria
Chamado à atenção com certa seriedade
A moça do caixa que, muito séria, não sorria
“Moço, essa fila é para os da terceira idade”
Vaidoso, sentindo seu ego bastante inflado
Saiu daquela caixa para atendimento especial
Mas tinha que surgir o intrometido indelicado:
“Não repare, vovô. Essa moça enxerga mal...”