ÂNGELUS

Quando, pela vez primeira,

extasiado, te vi

entregue ao palmilhar

de um caminho torto

inventado pra ti,

de mãos dadas

contigo mesma,

sorriso casto

à procura de desvios,

tive a impressão que tua alma,

fugitiva de sua profissão,

brincava de profanidades

à tua volta enluarada,

feito uma filha obediente.

Não saía de perto de ti

por nada

e por nada não se recolhia

nem mesmo na hora

em que os sinos se dobravam

para anunciar o ângelus.

Quando te vi novamente,

obsequiosamente chegadora

com o diadema já delineado

e espargido,

o sorriso voluptuoso

e úmido;

e caído a teus pés

o pôr-do-sol,

apaixonado,

tive certeza absoluta:

- Tua alma te era a mais devota e obediente filha!