Um brinde

Perdi a conta esta noite de quantos brindes ergui;

Aos seus olhos, penetrantes, acesos, buscando dentro de mim o que nem mesmo eu sei que guardo ou tenho;

Aos seus sorrisos, que se mostravam, antes, cativantes

e se transformaram em lanças mortais, penetrantes;

Ao seu corpo que não conheço, que não toquei, que amei.

Brindes à materialização de meus sonhos, que não se deu,

porque não existiram;

aos seus lábios que balbuciavam convites aos beijos

e se transformavam em flechas letais de veneno

a ser sugado sem sentir;

ao seu cheiro, inconfundível, mas inesquecível,

que vai ficar grudado nos detalhes de tudo que você não tocou;

Ao seu fogo que ardia em mim e que nunca me queimou

Porque o quanto me bastava,

Não passava, talvez, de uma paixão ilusória.

Ébrio inebriado por um amor

sem glória,

sem vitória,

caminho agora pelas calçadas da madrugada aos trancos,

de volta à clausura de minhas solidões,

de minhas frustrações,

lembrando do que nunca aconteceu;

como se fosse possível reviver

momentos espalhados nos cacos de minha caminhada.

A vida deve continuar, eu acho.

E acho que vou encontrar um novo caminho sem tropeços

(pelo menos sem obstáculos e barreiras intransponíveis

Colocadas, não sei porquê, em minha frente).

Brindes perdidos, jogados nos copos de minha noite como veneno.

Que pena você ter saído de mim sem ter chegado.

Que pena tirar de mim um coração que brindou a glória, um dia,

de ter amado;

e tão intensamente que todos os brindes que me fizeram hoje

ébrio da madrugada

sejam pouco para celebrar o amor em toda a sua plenitude.

Que teria lhe dedicado.

Por que brindar ao nada, ao irracional? Não sei.

Só sei que amei e é o quanto me basta para ter vivido assim,

Na incerteza de que um dia, tudo isso teria – ou não - um fim.