A PALAVRA CEM

a Ernest Hemmingway

ao chegar

à palavra noventa e nove

detive-me

com medo de ultrapassar

a palavra cem

viajando em excesso de velocidade

pelos corredores áridos

do papel branco

surpreendido pela descoberta

de encontrar-se despido

das outras noventa e oito

palavras

no labirinto infinito do verbo

os minotauros confundem-se

com os touros esbaforidos

nas vastas arenas das cidades

os toureiros lêem hemmingway

e encantam os espectadores

no sítio mais claro da terra

esperando

pelo sol dos gritos e das flores

na magia controlada

das verónicas

a escuridão desperta

para o dia

contra o silêncio das sombras

onde se escondeu

iluminada

a palavra

cem

JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES

(inédito.1998)

JAG
Enviado por JAG em 30/01/2006
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