CRIANÇA ABANDONADA
(Do livro “Santo de Casa”, escrito em 1980)
Neste mundão sem porteira
Onde quem está de butuca
É quem saca toda transa,
Chega-se a uma conclusão:
Ninguem quer nada com nada,
E num salve-se quem puder
Poucas pessoas escapam
E muitos acabam entrando
Na tubulação.
Se danam pobres adultos
Que de tudo sabe e ver
E crianças abandonadas
Que á nascem na miséria
E olha tudo e a todos
Sem nada compreender.
E entre esses inocentes
Que não entendem o que fazem
Nem que vieram fazer
Neste vasto mundo cão
Vítimas de pais ignorantes
Acabam se transformando
Um perigoso, um ladrão.
Abandonados ao mundo
Essas criaturas se revoltam
Contras tudo e contra todos
E ainda são condenados
Por muitos sendo malhados
E ainda, como animais
Por outros escorraçados