POEMAS TORPES
I
um dia estarei vencido
e levemente embriagado/
para subir e descer as escadas/
como quem come um sanduíche ao morrer.
um dia estarei predicativo/
pedindo ao tal sujeito que me olhe sem rancor/
e que me estrangule no torpor da palavra sono/
ao ignorar os Deuses que hão de me expulsar do paraíso.
um dia ficarei assim/
sem jeito em jeito algum e nada mais/
como quem leva um tiro na barriga/
e resmunga nos cantos quando a dor é ainda pior.
II
manhã cinzenta e fria/
quem em mim apodrece/
sou feito de trevas e o mal circula agora/
em minhas veias de carvão e aço.
manhã triste e sonífera/
como quem atira a esmo num corredor escuro/
e o vento que semeia a tempestade de sempre/
nos mortos que sussurram em meus ouvidos.