Na imensidão do pensamento, a tristeza do poeta.
Relendo as páginas do meu pensamento,
Fui buscar na imensidão, tempos que não voltam mais,
Lembrei-me de muitos fatos do passado,
Lembrei-me dos grandes amigos, companheirada de verdade,
Lembrei-me dos sonhos e dos encontros,
Decepcionei-me quando, vi na realidade que muitos já estão no além.
Recordei dos velhos causos e das longas prosas,
Lembrei-me de quantas noites conversando até de madrugada,
Senti uma vontade louca de voltar ao passado,
Quis reviver de novo a minha juventude com aqueles bons amigos,
Hoje tudo está diferente, cada um tomou um rumo,
Cada um seguiu seu caminho, nos diferentes caminhos do mundo.
Tenho saudade das velhas músicas, cantadas e ouvidas,
Tenho saudade de ouvir de novo o velho som de um berrante preguiçoso,
N imensidão do sertão,
Tenho vontade de ver de novo o ponteiro com a boiada atrás,
Sinto uma dor no peito, quando vejo meu par de botas jogadas no canto,
Sinto saudade e choro de verdade.
Como eu queria ouvir de novo:
Tonico e Tinoco cantando a saudade do Chico Mineiro, seu companheiro seu irmão,
Lourenço e Lourival cantando lembranças que o tempo não apaga,
Miltinho Rodrigues e Tibaji, os trovadores do Brasil, cantando o teu casamento, minha amada,
Belmonte e Amarai, sentindo a saudade de minha terra,
Léo Canhoto e Robertinho cantando o passaporte para o asilo e a mulher de um amigo meu.
Como não sentir o tempo passar se hoje recordo com saudade:
Da menina da aldeia, que cresceu com lindas curvas na cintura,
Da volta que o boiadeiro fez, pra rever os grandes amigos,
Do sonho do caminhoneiro, que eram dois amigos inseparáveis,
Da pombinha branca que voltou trazendo no bico mensagem de amor,
Da lembrança que não se afasta de mim, pois já imaginaste como ela é.
Minha mente parece uma tela que reproduz tudo o que já vivi,
Reproduz a imagem do menino na porteira pedindo uma moeda,
Faz-me ver a moça socando o pilão,
Traz-me de volta o menino caçador com sua cartucheira na cintura,fazendo bonita figura,
Dá-me vontade de ir para o velho pouso de boiada.
Queria poder voltar aos bons tempos de criança,
Andar de novo no meu cavalo preto,
Ou quem sabe com o canoeiro, dar uma pescada boa,
Podia ainda sentar no banco da pracinha com a primeira namorada,
Dar a ela uma flor do cafezal,
Mesmo que aquela fosse uma noite pra ficar na lembrança.
Sinto ainda uma forte saudade da gente da minha terra,
Pois quando passei pela velha porteira meu coração ficou meio banzaró,
Ouvi de longe o canto do inambu chitã,do xororó e do jaó,
Desejei matar a sede na água que estava na porunga cheinha,
Senti uma alegria no peito quando vi meu velho pai no alto do sitiozinho,
Veio-me a mente triste recordação, da mamãe e dos irmãos.
Hoje tanto tempo já se foi, meus cabelos branquearam,
Minhas forças foram vencidas pela mão do tempo,
Parecendo até que o destino tem um capricho,
Sinto uma saudade e volto a chorar por saber que estes tempos não vão mais voltar,
Percebo que tudo pode ser a ilusão de uma vida,
E que minha já chega ao fim e que pior de tudo, a morte não marca hora.
Sinto que vou morrendo aos poucos, e, logo,
Estarei no céu, cantando com Tião Carreiro,
Ouvindo o toque manhoso da viola do Tonico,
Vendo de longe o grande pé de cedro, que um dia foi colhido nas matas por um caçador,
E podendo rezar na capelinha branca que foi construída pro amigo Chico Mineiro,
Quando tudo terminar quero morrer abraçado ao violão.
Quero que os tocadores e os cantadores cantem e toquem para mim,
Quero que coloquem meu corpo na terra, pois foi dela que saí,
Não quero tristeza, nem lágrimas, sorriam para mim,
Quero que cantem a volta do boiadeiro e a saudade de minha terra,
Pois cantar foi o que fiz, quando pela terra andei,
E em cima do meu túmulo coloquem um Cristo de braços abertos, para mostrar em quem sempre acreditei.
Para terminar, faço minha as palavras da mágoa do boiadeiro,
Não sou poeta, nem sou cantor,
Sou apenas um amante da saudade,
Dos verdes campos lá do interior,
Escrevi hoje estas palavras pra mostrar que sofro de verdade,
Em saber que na verdade tudo isso não tem mais valor.