DO ESPÍRITO DO SONHO

Três árvores e sete anjos que não parecem anões de jardim

Assim, assim que vocês se vêem.

E eu, Mereço mesmo a visão,

Se só enxergo o que quero e o que Vão?...

E Vão me dizendo e me mostrando o que é Vão!

E vão e vão...

Ah! assíntota verdadeira da parábola sem diâmetro.

Quantos polígonos de dois lados inexistem para que exista um triângulo?

É forte, é forte a linha que não é feita de pontos...

Mas da sua união bem conexa e sem sentido;

mas com uma, duas, mil direções,

Como as cuja tangente se pode calcular

através da matemática irregular

– que se teoriza com as mãos...

E o mundo é a coisa das coisas das idéias das quais coisas têm de se tirar

E que não mais são que nada me é a idade

uma ferveção imposta e, três vezes sem entornar,

transposta em uma de suas mãos?

Vão e vão e vão, de novo...

E quão é a medida dos que se ponderam

Por uma imponderabilidade crescente?

É os que se dizem normais, que são naturalmente doentes.

E, vê, como é ridículo voltar à racionalidade...

Escrever com a cabeça baixa e o estro em cima

É a melhor forma de estar em contato com o que se tem na mente

E não com o que se pensa...

Pensar não é a pureza. O Pensar é a destreza de enganar-se com a segurança

de saber tudo o que é impossível saber ao certo

Mas que se julga, como eu neste discurso, sempre ser correto.

Uivar na saída da aula da Fernanda de Sol

não é o que se espera de um mundo melhor.

E esperar é esperar e se esquivar de tudo num canto.

E o canto é a interferência por ondas mecânicas em tudo

e é, ao mesmo passo, o Abrigo do Ser Nada...

E o nada se expõe na possibilidade de não ter o que mais dizer.

Duas moças de vestido preto não têm chance de pôr óculos escuros

E não serem acusadas de combinar, quando queriam tão-somente...

Tão-somente pôr óculos contra o Sol

da professora de cuja aula desejei sair uivando.

As folhas de papel saem voando janela a fora

por uma abertura que nos papéis desejei fazer

Mas a que o concreto passado, a história passada, os desejos passados,

do fundamentalmente Outro, fizeram sua e intervieram da Sua forma....

Nasci por entre as coisas que amo

E amo as coisas por entre as quais não nasci;

Guirlandas, o que são? Perfis, o que são?

O que são noites sem Sol?

Não ter Sol nas noites que comumente não se o tem

é o avesso do sonho.

Expulsem-no da sala, precisamos sonhar!

E o sonho foi aquilo que saiu pela janela.

Gritem, porque daqui de cima minhas mãos não alcançam!

Eu não conseguirei de volta o que agora o vento leva...

E as folhas agora se acomodam num triângulo de árvores

E se confundem, em termos, com as folhas delas...

Salve o caçador do dendroclasta,

este que se diverte ao ver nas esperanças cessar a respiração...

Minhas mãos não alcançam, mas eu Vejo e não mereço ver

Pois sempre me viro a enxergar tantas desgraças. E não são elas vãs e vãs?

Eu devo, então, tropeçar na minha vontade de cair

e ser recebido, sob juros, por sete anjos no jardim.