ABANDONADO NA ESTRADA QUE LEVA À TERRA NOVA

Fosse uma rosa menina

Dessas que caem das estrelas

Colorem-se de amanheceres

E se enfeitam de diamantes.

Fosse uma rosa de pérolas

Dessas que se geram no seio do tempo

Embranquecem-se de infinito

E se transparecem de raios loucos.

Fosse uma rosa vermelha

Dessas cultivadas pelos anjos

Com a maciez de todas as graças

E a beleza de todas as preces.

Fosse uma rosa de lua

Dessas que clareiam o universo

Que mostram o corpo sem nódoas

E escondem a tristeza sob sua leveza.

Fosse uma rosa de ouro

Dessas lapidadas por mãos de deusas

Pra comemorar o jubileu de santas

Na catedral de algum país de promessas.

Fosse uma rosa efêmera

Dessas que se exalam do corpo perfumado

E se espalham pela alma como doença

E se exaurem nas armadilhas do amor.

Fosse uma rosa,

Rosa,

De olhos alumiados,

De pele petalina,

De sorriso difuso,

De gestos vastos,

De alma profícua.

Mas é apenas

Uma maria macilenta,

Uma maria-sem-vergonha,

Dessas que se entregam ao abandono

de uma beira de estrada

que não leva a lugar algum.