SÓ MAIS UNZINHO

Quantos eram os sonhos!

Grandes sonhos, grandes ideais

Todos, porém, foram se perdendo,

Aqui e acolá, escorrendo pelos dedos

Das mãos sem tato pelo frio gelo

Que se alastrou carimbando

- Embrutecidamente -

As linhas que formam o “M”

E em outros o “H”.

Reincidi várias vezes,

Voltando, atraindo estes perdidos.

Reencontrei-me com alguns dos mesmos

(Pois quem procura às vezes acha)

Mas não possuíam mais nada da magia

Nem do visionário de outrora.

Pelo contrário, o esquerdo do contrário.

Mostraram-se velhos, fatigados,

Desenganados pela médica cética

A que chamam hoje “Experiência”.

Ah, fosse quando nas teorias!

Sinto-me menos sapiente desde então

Bem menos, como se desmemoriada

Após uma noite insana na boemia.

Antes eram as certezas, hoje só conjecturas

E nem posso dizer que esta amargura

Adveio da perda pelo que lutar

Pois aqui se luta por tudo enquanto

Só pra respirar e eu nem entendo porquê

Tanta vontade é essa de encher

Os pulmões fatigados, de ar

É a água tornando-se vinho numa madrugada.

Se pudesse, ao arrebol desse ilustre dia,

Embebedar-me-ia com apenas mais um sonho

Só mais unzinho... Mesmo sabendo da ressaca do depois

Depois? Seguiríamos nós, peritos disto tudo,

As mãos agarradas ao laudo proficiente

Com a força que deveríamos ter usado

Na guarda dos outrora sonhos, agora perdidos

Pois eram eles que ainda nos dedicavam

Algum artifício encantador nos fundamentos.

Kadja Ravena
Enviado por Kadja Ravena em 25/06/2008
Reeditado em 05/03/2009
Código do texto: T1051531
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