SÓ MAIS UNZINHO
Quantos eram os sonhos!
Grandes sonhos, grandes ideais
Todos, porém, foram se perdendo,
Aqui e acolá, escorrendo pelos dedos
Das mãos sem tato pelo frio gelo
Que se alastrou carimbando
- Embrutecidamente -
As linhas que formam o “M”
E em outros o “H”.
Reincidi várias vezes,
Voltando, atraindo estes perdidos.
Reencontrei-me com alguns dos mesmos
(Pois quem procura às vezes acha)
Mas não possuíam mais nada da magia
Nem do visionário de outrora.
Pelo contrário, o esquerdo do contrário.
Mostraram-se velhos, fatigados,
Desenganados pela médica cética
A que chamam hoje “Experiência”.
Ah, fosse quando nas teorias!
Sinto-me menos sapiente desde então
Bem menos, como se desmemoriada
Após uma noite insana na boemia.
Antes eram as certezas, hoje só conjecturas
E nem posso dizer que esta amargura
Adveio da perda pelo que lutar
Pois aqui se luta por tudo enquanto
Só pra respirar e eu nem entendo porquê
Tanta vontade é essa de encher
Os pulmões fatigados, de ar
É a água tornando-se vinho numa madrugada.
Se pudesse, ao arrebol desse ilustre dia,
Embebedar-me-ia com apenas mais um sonho
Só mais unzinho... Mesmo sabendo da ressaca do depois
Depois? Seguiríamos nós, peritos disto tudo,
As mãos agarradas ao laudo proficiente
Com a força que deveríamos ter usado
Na guarda dos outrora sonhos, agora perdidos
Pois eram eles que ainda nos dedicavam
Algum artifício encantador nos fundamentos.