O poeta
Talvez eu seja um remendo
de palavras jogadas pelos cantos,
de palavras jogadas ao ar,
de qualquer forma de palavrear.
Talvez só me componha de retalhos
meros pedaços descartados
a qual os outros fazem pouco caso
enquanto eu insisto em juntar.
E paira-me a dúvida de que também
eu seja apenas um andarilho dentre as letras,
um pobre ser perdido e aquém
diante de tudo que não se é escrito, descrito...
E todo dia ponho-me diante delas,
das palavras hostis, ou mesmo das discretas,
e lapido poemas em meio a dilemas
polindo os defeitos que saltam de minha caneta.
E por mais que eu trabalhe com as palavras,
não acho que me são fardo elas
pois tanto preciso delas
que não me permitiria cansar em tê-las.
E acho que elas são parte da cura,
pois me são como antídotos em abundância
que trabalham da forma mais pura
contra o veneno abrupto da ignorância.
Quem sabe então além de poeta
eu até talvez seja um pouco médico,
engenheiro, advogado
e tudo isso sobre o honorável mérito
de tudo com as palavras poder ser abordado.