Véspera de inverno

Mais uma madrugada me furta o sono

Impondo-me devaneios acerca da maturidade

Sinto-me um sonhador, mas também um nostálgico.

Uma confusão de sentimentos me atordoa

Nenhuma certeza me conforta

Todo ano é a mesma coisa

Os paparicos me constrangem

As lembranças me animam

Os votos me aborrecem

A falsidade me insulta

Como lutar contra o poder das convenções

Supor uma felicidade, leviandade.

Fingir alegria, anestesia.

Ser autêntico, agressão.

Resta-me, então, ser agradecido.

A madrugada clareia

O suplício se despede

A certeza permanece

Todo ano eu envelheço

Em toda véspera de inverno