CINZAS DA SANIDADE

Varro o chão

Onde caíram as palavras comportadas

Que por entre dedos gélidos

De minhas mãos rudes

Deixei escapulir, por obstinação.

Junto-as e cremo-as.

As cinzas, entrego-as ao vento;

Leve-as ele para bem longe de mim,

Fantasma que são

Do poema reto

Que não me permiti consumar.

Não lapido as palavras.

Não destilo as palavras.

As lapidadas,

Deixo-as aos jovens apaixonados.

As destiladas,

Aos que delas se tornaram amantes incorrigíveis.

Quero-as selvagens,

Cheias de quinas e fios,

Cheias de doenças e vícios,

Para que quando brotarem de dentro de mim

Rasguem-me a carne,

Contaminem-me o sangue

E façam-se poemas tortos:

Eles me conferem vida intensa.

Não quero, pois, o poema da breve paixão,

Nem o da paixão amancebada:

Eu vou é me casar, para sempre, com o Cântico Negro.