Desdita...
Não há desdita na lágrima do triste...
A desdita está em quem a provoca!
O ridículo está no dedo em riste
que ao abrigo de nada, tudo invoca...
Despudorado mundo e imoral vida
que cada vez mais sufoca e irrita...
Cada homem é uma folha já lida
num livro sem qualquer folha escrita...
De que serve fazer poesia?
Que serventia tem o sonhar?
Se trabalhamos até definhar o dia
e roemos a recompensa sem pensar...
Envelhecer é penetrar num engano
do qual nunca mais iremos sair!
A graça vai se perdendo a cada ano
e por vezes, até apetece desistir...
Que tamanha desdita há em nascer!
Que estranha forma de castigo...
Que tristeza enorme ver perecer
o cordão umbilical que julgava ter comigo...
Cada vez mais namoro a quietude!
Cada vez mais o silêncio me acompanha...
Serei assim até que algo mude!
E acho que serei assim até ao fim da campanha.