VOLÁTIL

por Regilene Rodrigues Neves

Andante de poema em poema

Devoro almas dentro de mim

Ao longo deste caminho insano

Que percorro em ilhas

E sobrevôo em silêncios

De um pássaro poeta...

Sou navegante de destinos...

Solitária

Atravesso luas e sóis

Ocasos erguidos

Infinitos perdidos

Nesta devasta solidão

Velada de um poema...

Taciturnos versos

Do meu templo

Que contemplo

Debruçada nas alíneas

Entre parágrafos

Ora de amores

Ora de amizades

Ora de saudades

Ora de meros devaneios

Que a alma comunga

Em prece de um verso

Que alivie a sensação

Desse sabor destemido

Que jaz no meu coração

Feito sombras de epopéias

Deitadas na volúpia

Do meu corpo volátil...

Sobrevivente de vôos

Da alma que perjura

Meus medos numa força

Que esconde sensibilidades

Das minhas verdades

Nas aparências frágeis de um poema

Escrito a esmo de um momento

Meramente meu...

Rasgando meus silêncios,

Para pegar desesperadamente

Em algum lugar que possa

Me afagar dessa tétrica ternura...

Aflora uma ausência de mim mesma

Perturbando meu sossego plácido

De uma quietude velada

Em segredos de um poema

Que confessa páginas de m’alma

Por toda vida retirante

Andante de caminhos sem destino

De poema em poema...

Por vezes sou uma metade inteira

Outras vezes em duas metades

Me reparto e me reporto

De uma felicidade-mor de amor

Entre limites infinitos de sonhos...

A vida é meu amuleto

Minha fortuna minha sorte

Nela compreendo meus mistérios

Meus elos nos anéis de saturno

Velado por morte...

Noturno planeta entre luas

Sobrevivente de luz fosforescente

Esfuziando relâmpagos

Na caligem das nuvens

Num abraço temporão

De um velado poema

Que acorda nas alíneas

Do meu corpo volátil...

Em 19 de junho de 2008