EXTREMOS

Ah, a força que tens!

Fora de mim, tu me apareces

em forma de mágoa, dor,

decepção, desamor.

Dentro de mim

és revolta e desejo,

vulcão e prado em flor,

lago manso e sereno,

ao mesmo tempo

mar revolto e assustador.

Não sei se por covardia,

ou por puro recato,

me invades quando, indefesa,

me entrego ao sono,

no escuro de meu quarto.

O que tu fazes não parece sonho,

é fantasia, ou mais que fantasia,

pois que, ao despertar,

sinto ainda teu cheiro,

vendo teu vulto se afastar,

tranqüilo e sem alarde.

É alegria e sofrimento

o que depois me encanta,

queima, arde.

Acordada, vigilante,

tento te evitar.

Mesmo assim me surpreendes

ocupando meu pensamento,

tentando perturbar tudo o que faço,

atravessando meu caminho,

confundindo meus passos,

tirando meu juízo,

transformando em esgar o meu sorriso.

Tua incoerência me espanta.

Mas me contenta saber,

que por maior que seja o teu poder,

e a tua força tanta,

não podes me obrigar a te esquecer

e a te sentir enroscado na garganta...

Ah, a força que me dás!

Sal
Enviado por Sal em 26/01/2006
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