Sem título

Cheguei ao chão

e de chão fiz meus pés

Tornei-me estrada

Fiz céu da minha dor

e havia Maria

em toda parte

Um menino preso ao chão

com um badoque na mão

olhando para o céu

Mira o moleque

com jeito de quem

sabe da chuva que vem

Se perde o menino

mundo a fora

sem rumo nem prumo

Menino de chão

Em que rua nos vimos, menino?

Por qual caminho nos lançamos

até nunca mais?

Em que rua

demos as mãos

sob o mesmo céu?

Quando fomos

nossa dor

e nos sentimos chão?

Somos hoje, menino,

um país

de céu e estradas

e Maria

num certo dia choveu

e nos encheu de rios

que nos cortam

que nos sangram

que nos lavam

Dodô Cavalcante
Enviado por Dodô Cavalcante em 17/06/2008
Reeditado em 27/06/2008
Código do texto: T1038168
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