Se esquecer for a solução
Esqueça tudo!
Mas não se esqueça que o vento existe
E que sopra sempre!
E eu sempre triste
Sou soprado por ele.
Esqueça tudo,
Mas não se esqueça na tempestade,
Que isso pode ser mortal!
E contra a tua própria vontade
Esqueça que é prisioneira do mal,
Esqueça que i instante existiu,
Mas não se esqueça das crianças,
Das crianças que ainda somos!
Conte!- não se esqueças- aos teus,
Tudo aquilo que um dia sentiu,
Diga a teus filhos que nunca mentiu,
Que a noite chorou, e de joelhos pediu
Ao homem aos teus pés; mais calor,
E que roubou – não sã – num momento de dor...
Roubou pequenas gotas de amor!
Esqueça tudo!
Não se esqueça que a poeta disse,
Que o instante existe,
Esqueça então que a fizeram triste,
E se a tristeza ainda persiste,
Esqueça-me! Sou sinônimo dela,
E sou sempre por ela!
Mas se o calor ainda me habita,
Abra a tua própria janela,
Busque com tua própria pá,
Cave com tua própria fé
O teu próprio ouro,
Então esqueça que Deus existe,
Pois nisso se encontra a salvação,
E se o pecado ainda insiste
Em bater em teu coração;
Esqueça que o poeta é triste
E seras feliz...
Esqueça tudo!
Mas não se esqueça que o mundo
É uma terrível esfera,
É uma engrenagem que a espera...
Esqueça que a luz a habita,
Que a dúvida em ti grita
Com a força de uma tormenta
E contra a direção do meu vento!
Está perdida na correnteza,
Só! E é falso o teu leme,
E por mais que reme;
O mar é furioso e você o teme!
Então esqueça tudo,
Mas não se esqueça que o poeta vive
Em cada porta fechada
A espera do sinal
Em que todos os mares se abrirão!
Esqueça tudo!
Mas não se esqueça que é fétido o momento
Em que se descobre que o tudo
Que temos é simplesmente nada!
Então esqueça de tudo,
Se é que ainda existe algo;
Algo a ser lembrado,
Mas não se esqueça
Que o momento nos faz lembrar
Que basta um momento
E o tempo
Nos fará órfão das lembranças mais sinceras!
Esqueça tudo, mas não se esqueça
De lembrar que a febre...
A febre consome o homem...
Que o homem consome...
Consome...
Consome...
O homem consome a febre!
Então esqueça tudo,
Mas não se esqueça que a pureza
É somente para os mortos
A pureza é a própria flor do esquecimento,
Mas pó que se lembrar de tudo isso?
Então esqueça....
Esqueça que o céu se faz turvo
À sentença do mau juiz
Esqueça que o tempo se faz cru
Ao cozer nossas esperanças,
Esqueça que o fim
É o nosso único meio,
De sempre poder recomeçar!
Esqueça as palavras sinceras,
Desacredite do que diz o poeta
Que morrer em cada canto,
Em cada instante
Encostado a cada muro
Sem lógica e sem amor,
Línguas separaram-se em
Um único idioma, em febre e calor
E aquecem uma alma impar
E sem razão de existência
Impondo-se ao falso prazer
Em legitima penitência.
E o poeta não se perdoa,
Mas mesmo assim esqueça tudo,
Lave-se na lagoa
Onde a água já não tem responsabilidades
E por isso já não é tão pura,
Mas talvez detenha
Em cada impura
Gota; a cura!
Esqueça tudo isso
E creia em falsas,
Porém sabias palavras
Ainda não ditas por ninguém
Ainda não cantadas
Ainda não rezadas por nenhum poeta!
Esqueça que o mundo ostenta
A riqueza supérflua,
Esqueça meu primeiro verso
Se ainda dele se lembrar
Esqueça minhas palavras
Se em alguma delas
Um dia chegou a crer,
Esqueça que tempo corre
E que o amor me move....
Esqueça tudo então,
Se esquecer for a solução!