HISTÓRIAS DE TRANCOSO
os postais da Espanha sobre a mesinha do computador
são pedaços de ilusão
jarros com flores sobre a mesa da sala
contam histórias de Trancoso
há blusas e bolsas penduradas denunciando fracassos
janelas fechadas guardando a poeira do tempo e armários empenados de sofrimento
as pernas da mesa estão trôpegas
da paralisia dos minutos no velho relógio
que rezou as horas do casamento
a umidade amarelou por baixo do vidro
os retratos de uma miragem
a igreja tem as paredes verde-musgo e o altar
destruído pelo cupim das amarguras
as avencas são apenas talos
fugiram os pássaros das gaiolas
pesam as horas deitadas nas pálpebras
as sobrancelhas foram varridas fio a fio
os cabelos morreram desgostosos
a vida em cinza nunca mais esverdeia
avermelha
doura
a vida está cega