DA HUMANA CONDIÇÃO * Ecce Homo
Comigo, o conflito.
Enfrento o dilema,
escrevo o poema,
em mim acredito.
Porque outras não tenho,
sou eu, nestas horas.
Invento as auroras
na angústia do lenho.
Da paz não conheço
nem asas nem canto.
Só iras levanto
no tempo do avesso.
Da fome sem pão
à sede sem água,
do tempo da mágoa
ao da perdição.
Rasgando as estradas
à luz da evasão,
esmago no chão
um tempo de nadas.
E vou, neste abraço,
abrindo horizontes
de pão e de fontes,
no tempo e no espaço.
Se eu for só mais um
nos todos que houver,
o quanto eu quiser
há-de ser comum.
E findo o conflito,
e nulo o dilema,
o Homem poema
será o seu mito.
Lisboa, 21 de Janeiro de 2006.