Breve amor eterno
Quão breve talvez seja o amor que posso dar-te!...
mas sem vivê-lo, como saber...?
Porque em mim pulsa por ti um amor confuso,
sem crachá de amante ou de irmão...
penso que me és os dois.
Se te amo como amante,
ainda neste instante, vejo em teu rosto um irmão.
Porém, se continuo a te amar como irmão,
se me passam tantos desejos, que te quero como homem.
Então, quê pensar?
Então, quê fazer?
Como tudo por mim passa,
assim, tenho consciência, também tu passarás...
mas de que adianta deixar de viver-te,
se, de qualquer forma, tua presença continua,
se, por tudo que há de mais sagrado,
não consigo esquecer-te um sequer breve instante?
Também você passará
e a dor que me ficará será suportavelmente insuportável,
os meus dias escurecerão neste dia,
minhas noites esfriarão nesta noite.
Mas, vivo-te agora , estranho amor...
vivo-te para que jamais possas sair de dentro de mim,
para dissolver minha alma na tua
e, assim, ficar em ti eternamente, ainda que me esqueças.
Quão breve é o sopro de amor que posso dar-te!...
Ser-me-ia a maior das felicidades
que fosse eu realmente especial para meu irmão.
Irmão, sim... porque irmãos, ainda separados, são irmãos.
Amantes, porém, perdem-se fora do beijo...
e não há quem os faça mais unidos que isso.
Mas, mesmo assim, entrego-te meu corpo
como última forma de um prévio adeus...
para que não suceda que o vento leste sopre-te
e te arrebate o vento norte,
e fique eu a remorso sobre o que não vivemos.
Assim, pois, quando a estrada chamar-te,
ou quando a vida erguer nosso muro de separação,
leve você meu sopro,
meu corpo,
minha alma,
meu carinho,
minha oração,
meu sorriso,
meu choro,
minha casa,
minha música,
minhas madrugadas
e minhas idéias febris...
tudo que já é teu por direito e por minha vontade.
E, então, quando eu ficar no vazio,
possa eu ter a certeza de que dei o meu melhor
àquele que me é a pessoa mais amada.
Possa eu viver da lembrança
do amor que eternamente tive por ti.
E, mesmo a morte, não me leve teu sopro...