(DES) INTEIRA

Antes de ti eu era única e só.

Antes de ti eu era inteira.

Quando te vi me dei um nó.

Quando te vi passei a fronteira.

Da minha vida abri mão,

tornei-me estranha a mim mesma.

Agarrei-me à ilusão

de poder viver em quaresma.

Diluí-me no impessoal abissal,

fui coadjuvante na minha própria história.

Deixei meu eu original;

troquei-o por persona inglória.

Mas ninguém vive por alguém

e os encontros, é da vida, se dão e se vão.

Há, apenas, um senão...

Nada está separado, não se vai muito além.

Quando te encontrei me perdi.

Quando te perdi me encontrei.

Agora sou mais eu sem ti.

Ainda que não seja só minha,

gosto de quem fica comigo

quando estou sozinha.

Lina Meirelles

Rio, 11.06.08