Das Coisas que Gosto Mais
Gosto de maçã. E da água limpa que inauguro as manhãs.
Gosto de histórias - dos meios e dos finais -, e até das fábulas incríveis que não costumam terminar.
Gosto de abraço, forte e apertado.
Gosto de falar pelos cotovelos e gosto do silêncio que me segue quando eu não desejo ser.
Gosto de surpresas e do cheiro das flores do meu quintal – meu verde pedaço de chão. Gosto de mar, ainda que ele não pareça me gostar tanto assim.
Gosto do cheiro da grafite que remete minha saudade quando escrevo cartas de amor. Gosto de filmes de amor, daqueles preto-e-branco, de água-com-açúcar e pé-de-moleque, mas de novela não gosto não.
Gosto do mato gelado e do frio do amanhecer, mas prefiro banho de água quente antes de dormir.
Gosto de cerejas, de vermelho, preto e branco.
Gosto do perfume da pele de minha mãe.
Gosto de livros – ah, esses eu gosto muito! -, de poesia, prosa e música nacional. Gosto de filmes nacionais também.
Gosto de sapatos, mas dispenso as meias brancas que me sufocam os pés.
Gosto do balanço que tem as ondas quando brincam de vai-e-vem. E de Lenine, Chico, Zeca, Paulo, Gabriel, Cecília e Tom.
Gosto das valsinhas que dançam as teclas brancas do piano antigo de minha avó.
Gosto do delírio que o doce me faz sentir, e de dormir até cansar.
Gosto do cabelo negro de meu pai que transpira a minha calma.
Gosto de imaginar o que teria sido se assim não fosse mais, mas não gosto de me arrepender.
Gosto da simetria que minha bagunça insiste em ter.
Gosto de ar puro e de paz.
Gosto de ser, estar e sentir a minha solidão.
Gosto de saudade, mesmo que nem sempre queira gostar.
Gosto das risadas e da voz doce de Eliza. Eliza do olhar de jaboticaba.
Gosto de guardar papéis de carta e fotografias, mesmo aquelas que não lembro de tirar. Gosto de nostalgia, do ilusório e da imaginação.