RECONSIDERANDO

RECONSIDERANDO

Lílian Maial

De alguma tocaia de versos,

A vaga lembrança de vida.

Sinais de sobreviventes,

Pistas nos caminhos dispersos

E um cantar de pássaros e borboletas

(não que borboletas cantem...).

Era tarde e quieto antes

Que esse teu sol me raiasse.

Era outono e folhas flutuavam

sem querer cair,

em sua sabedoria vegetal,

como adivinhando a inversão

nas minhas estações.

Bem-vinda dor!

Que tu me morras,

Se nesses braços tenho algum alento!

Que me mates, se é teu contentamento!

Gosto de pensar que me velarias,

Que me enfeitarias e cobririas de flores e beijos

E que me irias dizer cânticos e salmos,

Como a embalar-me no berço.

Agora que despertei de teus sonhos,

Amamenta-me de teu sorriso,

Que cheguei faminta de rimas.

Quero um gole de teus dias,

A paz de tua irrequieta alegria

E a falta desses teus tão poucos dias.

Enquanto subtraio-te as dúvidas,

Calcule meu passado, noves fora, hoje,

Que aqui e agora sou recém-nato,

Completamente dependente,

E livre do teu recato.

Ortodoxa incrédula,

Sou a cédula que te mal paga,

A célula que te mal vinga,

A santa que te maldiz,

E a cria da tua agonia.

*********