O Poema que chora do Amante Louco

Na calmaria do teu aconchegante lar

Escreve o poeta – lá fora, O Louco –

E como se não bastasse, como se fosse pouco

Adormece para só na manhã relembrar

Junta os feitos, vê defeitos, rala

Lê, re-lê, rasga, joga fora, escreve outro

Cansa, eternece, escreve mais um pouco

Café, almoço, a cabeça fora do lugar

Tarde, noite, madrugada

Eis o poeta, fadiga na face, dor no olhar

Chora, ri, come e bebe. Bebe pra suportar

O pesadelo de que teu escrito não lhe agrada

Já com a cabeça embreagada, alma lavada

Desiste da flor, mas do escrito: Jamais!

E faz então, como poeta que é louco faz

Escreve, sincero, pra tua amada:

“Juro, tentei por árduas horas

Lhe escrever do amor, da flor, do bem

Mas verdade é que escrevo também

Quando manda o fado, poema que chora!

Pois quem ama, mesmo tendo todo o amor

Que existe no mundo, e ama a fundo

Tem também, sempre, o sentimento profundo

Contraste, de pena e de dor

Pois que me desculpe, mas dentro do peito

Está a alma, que é a gente de facto

E por mais que honremos, com amor, nosso pacto

Quando manda o coração, a mão não dá jeito!”