Vestígios
Vou ao encontro do suor dos lençóis
Que exalam fragrâncias variadas,
Do pecado momentâneo à cumplicidade eterna
Faço-me então, amante iluminado à meia luz,
Oferenda da Lua acanhada
Vou ao encontro do crepitar das velas,
Desfraldando pecados e arrependimentos,
Lágrimas e tormentos.
Graças alcançadas e promessas juradas.
Faço-me então, penitente diante deste altar,
Redimo-me e sigo em procissão
Vou ao encontro da poeira das solas dos pés.
Que disputam espaço no pobre colchão,
Com o ralo cobertor,
Com os sonhos pequenos
Fantasiados desde menino,
Que a família melhor vida quer dar
Faço-me então, simples trabalhador,
Rezo a prece antes do adormecer e ao Pai suplico,
O pão nosso de cada dia
Vou ao encontro dos restos do lixo,
Disputados por mãos de gente sem sonhos.
O cadáver da ave e um pedaço
De pão dormido não lhe permitem mais ilusões
Faço-me apenas, mais um neste apelo da fome,
Que sussurra sem forças,
Daqui nada mais posso extrair,
Com certeza há de faltar.
Traz-me de volta minha poesia.
Ordenando os compassos dos meus pensamentos.
Determinando hora e tempo,
Simulando meu cansaço em teus versos.
Faço-me então Poeta...