Vestígios

 

Vou ao encontro do suor dos lençóis

Que exalam fragrâncias variadas,

Do pecado momentâneo à cumplicidade eterna

Faço-me então, amante iluminado à meia luz,

Oferenda da Lua acanhada

 

Vou ao encontro do crepitar das velas,

Desfraldando pecados e arrependimentos,

Lágrimas e tormentos.

Graças alcançadas e promessas juradas.

Faço-me então, penitente diante deste altar,

Redimo-me e sigo em procissão

 

Vou ao encontro da poeira das solas dos pés.

Que disputam espaço no pobre colchão, 
Com o ralo cobertor,

Com os sonhos pequenos

Fantasiados desde menino,

Que a família melhor vida quer dar

Faço-me então, simples trabalhador,

Rezo a prece antes do adormecer e ao Pai suplico,

O pão nosso de cada dia

 

Vou ao encontro dos restos do lixo,

Disputados por mãos de gente sem sonhos.

O cadáver da ave e um pedaço

De pão dormido não lhe permitem mais ilusões

Faço-me apenas, mais um neste apelo da fome,

Que sussurra sem forças,

Daqui nada mais posso extrair,

Com certeza há de faltar. 

 

Traz-me de volta minha poesia.

Ordenando os compassos dos meus pensamentos.

Determinando hora e tempo,

Simulando meu cansaço em teus versos.

 

Faço-me então Poeta...

ziza Silvestre
Enviado por ziza Silvestre em 10/06/2008
Código do texto: T1027668
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