[Quando o Amor Partiu]

Canta ao longe o primeiro galo,

[há um trêmulo hiato na madrugada]

e logo, mais perto, canta o segundo.

Despertado pelos dois primeiros,

canta o terceiro... e canta outro... e mais outro...

Quanto mais distantes cantam os galos,

mais avulta a agonia, a sensação de esvaimento,

a figuração atroz da perda,

[há um trêmulo hiato na respiração].

Nos quintais amanhecentes da cidade sonolenta,

o canto de mil galos dissipa-se na distância:

é fim de noite.

Finda essa sinfonia da insônia,

restam os lençóis embolados,

os olhos doloridos, a cama vazia, fria.

ao longe, ruge a estrada:

o amor partiu, sem volta

_____________

[Penas do Desterro, 09 de junho de 2008]