Desejo

Quisera o dom de gerar grãos de areia

a cada gole de vida sorvido no tempo

e ao som do teu cantar, doce sereia,

que me engole atrevida até o pensamento,

vencer a ampulheta e me libertar.

Quem me dera o poder de asas criar

e acima dos homens e acima das teias

poder volitar,

rompendo as amarras que impedem nas veias

o amor de navegar.

Pudera o desejo que trago comigo

retido no afago e no beijo contido,

à espera de um dia poder se soltar,

fosse afinal consentido

nas linhas que traço

buscando um sentido

para a vida que passo.

Noutra esfera, noutra era,

nada importa em demasia

nem me oponho de pagar.

Pelo brilho dos teus olhos

que ilumina a fantasia

é que me ponho a sonhar.