Recado de Deus
Compadre Lemos
É guerra, no Sertão.
Sertão que o homem pensa
esquecido por Deus.
Mandacaru, cascavel, sede muita,
solidão de tocaia.
É fogo, é punhal na mão,
barriga esfolada no carrascal,
longes distâncias de nunca se chegar.
E o sol, terceiro terrível lado
dessa guerra seca!
Coragem muita, de se viver
e de se morrer aqui,
nessa terra de ninguém!
Quem perdoa quem?
Sobreviver!
Pois que tripa espalhada,
sangue seco bebido de chão
ossos brancos ao sol são – e só são –
inimigo a menos.
Volantes cruzam, sem direção,
a caatinga, Mãe do Cangaço.
Vira fumaça o bando que avança
e o Cujo salta e dança,
no fogo cruzado.
Macaco mata macaco
e a lenda, lentamente,
da flor à semente,
percorre reverso caminho:
vira verdade e cresce.
Lampião!
Desce,
do Alto Sertão
e vem vindo, vai indo,
sorrindo, cantando e matando,
o Capitão Virgolino.
E há pressa - quem diria -
de se chegar não sei onde,
sem norte, sem direção.
Nun canto qualquer do Sertão,
apesar de toda a violência,
o Amor espera.
E o nome do amor é Maria!
Maria que é,
Que vai ser
Bonita Maria do Capitão.
A ordem de Deus é seca,
feito recado de coronel:
Expedita precisa nascer!