ARQUITETURA
Elevar dois planos à condição de teto e chão é arquitetura
E arquitetura, do mesmo jeito, é fazer confundir a cabeça
Fazer parecer tão leve como o ar o concreto que se sublima e existe
Protege e convence, sente e é indiferente...
Que cala e que por vezes consente mas à cegueira nunca é conivente.
Elevar dois planos ou duas paredes é fazer arte
E fazer arte com planos sem paredes é arquitetar
Igualmente é ser artista fazer o lugar onde se está
O lugar onde se abriga o que protege o abrigar
É fazer casa, é fazer-se ver, é se velar...
É ter em si aquilo de querer resolver
É ver tudo completo de gente, é esquecê-las, é prover
Ser deus em algumas semanas ou em tempo de expediente
É se ver preso, mas por ser livre em si, e não estar, ser contente
É ver como se faz duas vidas com vigas desiguais.
Um arquiteto se planta a vegetar sobre a planta
Que, por sua vez, às plantas talvez eliminará
E ar, que ar? Há luz pelos materiais transparentes
Quem é o Ser para discutir o que é existir
senão alguém menor, menor que o arquiteto?...
Mas este, mesmo, é um ser que cria
E se eleva por criar e se rebaixa por ser Ser?
Ah! questões de poética, filosofia, matemática
Põem-se os esquadros, o compasso e o arquiteto a resolver
Que poder se tem sobre os problemas senão o de dissolvê-los?
Duas janelas são o vazio ou a armação?
São, na verdade, do que são feitas ou por o serem nada são?
Não se toca a janela nem se a faz...
Nem se a abre nem se lhe vê a frente nem nunca se está atrás
Mas se as prevê e se as arruma de novo e se as encaixa...
Elevar dois planos à condição de chão e teto é arquitetura inversa.
Mas o diverso, no inverso, inédito, indiferentemente se liberta
E as paredes são luz pela qual se deixa tomar
E à composição luminosa todo dia o dia todo se quer abraçar
Com braços menos compridos que a menor de suas esquadrias.