PECADO

Pecado...

agora sei o que é!

Pecado é não aproveitar as qualidades que se têm

é tocar como um rei

e se disfarçar de um reprimido frei

Pecado é cantar feito rouxinol

e guardar para si o sabor adocicado do bemol

sustenido aqui

sustenido lá

verdadeiro refrigério d’ alma

ouvir o som harmonioso do bem-te-vi chamar para vida

ouvir o som da cachoeira

que sem eira nem beira

em coro

diz num canto profundo

não se esconda do mundo,

Raimundo!

Descubra-se

saia debaixo do agapanto

solte a voz

solte o canto

e deixe a vida fluir

permita-se existir.

Com toda a capacidade harmônica,

melódica,

transforma palavras em belas composições

um punhado de letras que se juntam

parece até... passe de mágica

tudo com especial sentido

toma corpo

até no porto

com ou sem anticorpo

acende o templo santo

com ou sem pranto

tempo branco

num manto

de paz

o rufar dos tambores

o remelexo gostoso das cordas do violão,

doce, leve,

violino, bandolim

como se fosse um trampolim

da terra ao céu

véu

fel

que amarga a boca

ao lembrar dos tempos de criança

querubim

flores cultivadas com carinho no jardim

perfume de lavanda e jasmim

voz que se movimenta com a graça do zepelim

encanta e leva-nos do ar ao mar

com sensação de aconchego

provoca sossego

aos menos avisados... devaneios

com receio

de nada mudar.

Ah... mas pecado...

pecado é alienar-se, abandonar-se, encaramujar-se

e não compartilhar o que de divino tem

e, num gesto... se mantém

no esforço de conquistar

introjeta e expressa o bem

que lá no fundo é o melhor que tem

14 de abril de 2008

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