Solidão (III)

Sei que sabes que te olho com cobiça!

E maior do que ela, é o meu respeito...

Sabes bem que o teu olhar me atiça

e acende o fogo onde agora me deito!

Sabes que o teu toque me encaminha

para a luz dos céus mais distantes...

E o teu silencio desembainha

espadas de laminas cortantes!

Sabes ou talvez não...

Não sei se decifras o meu olhar!

Não sei se sonhas onde sonho mergulhar...

Não sei se te desejo em vão...

Ignoro os caminhos a seguir,

nem imagino que atalhos devo usar,

não tenho noção do que desperta o teu sentir,

e não sei se sabes como quero te abraçar...

Sabes pelo menos que eu existo

sabes que, pacientemente, insisto

e sabes também que te amo de paixão...

És a minha eterna solidão

e sabes dar-me sempre o teu perdão!

Perfeita és tu com a forma que te dou

amante absoluta que luta com quem lutou...

Não vais além do que eu imagino

e não ficas aquém do meu sonho melhor!

És o meu doce e total desatino

e ser louco por ti é o meu dom maior...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 06/06/2008
Reeditado em 17/02/2021
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