O ar que Respiro

Vem de uma zona de conflito,

Cheira pólvora, às vezes defunto,

Em forma de redemoinho maldito,

Aos poucos respiro e vou junto.

Vem de um horizonte infinito,

Cheira fumaça, às vezes veneno,

Sufoca meu peito, já não tenho voz, nem grito,

Aos poucos respiro, torno-me pequeno.

Vem da boca de um vulcão,

Cheira petróleo, às vezes dinamite,

Sufoca a adrenalina, quanta ilusão,

Aos poucos respiro, acredite.

Vem de longe com a madrugada,

Cheira esgoto, às vezes terra molhada,

Sufoca minha vida, já contaminada,

Aos poucos respiro, sou quase nada.

Vem de uma queimada distante,

Cheira flores, às vezes colina,

Sufoca o autor e também figurante,

Aos poucos respiro, mas já não sou como antes.

Vem da chaminé do mundo,

Cheira enxofre, às vezes chumbo,

Aos poucos respiro este ar poluído,

Tóxico, corrosivo, imundo.

Vem de uma garganta nociva,

Cheira arroto, às vezes cianureto,

Sufoca minha mente regressiva,

Aos poucos respiro as cinzas do graveto.

Vem de um grande escapamento,

Cheira borracha, às vezes cimento,

Sufoca minha alegria, meu sentimento,

Aos poucos respiro fraco e lento.

Vem de outro país,

Cheira o sinal, às vezes o giz,

Sufoca minha ausência, que diz:

-Ao poucos respiro, fecho a cortina, me retiro.

maninhu
Enviado por maninhu em 05/06/2008
Código do texto: T1020620
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