GALICISMOS SENSUAIS
Guardei aquela, hoje, velha rolha de champagne
Daquele espumante chic-brinde de ano bom
E aquele beijo, tal qual um bouquet crepon,
Trocado às pressas nas espumas do reveillon
Na cestinha de vime, forrada de cetim
Guardei as sapatilhas de ballet e o seu baton
E servi você, feliz como um garçon
Querendo amar sob o calor de um édredon
À luz mortiça de um abat-jour vermelho
Iniciamos uma dança sensual, extravagante
E com o calor de beijos flamejantes
Incendiamos a emoção ao rubro fogo, num instante
Arranquei a sua blouse azul de popeline
Borrei de beijos o rouge e toda a maquillage
E no banco de couro da camionette, na garage
Rendi-me às suas carícias como sabotagge
Em gozos infernais e posturas de dossier
Nossos sexos foram, os dois, um só pivot
E de gafe em gafe eles armaram um complot
Que nos tornaram ora colombina, ora pierrot
Ao final, exaustos, suados e revirados
Numa avalanche de torpor nós nos quedamos
E, como bibelots de crochet mais nos juntamos
E, sem tirar brevet, a cabina dos sonhos pilotamos