A NÉVOA
Bastaria apenas um gesto de simplicidade – um beijo molhado na face, uma prova de afeição e um coração acelerado.
Dormíamos abraçados no 110 da quadra 9 e nem mesmo o barulho do mundo lá fora era capaz de romper o laço de nossos abraços.
Bastaria apenas dizer: Agora somos nós! Esqueçamos a revolução e a arte por alguns segundos.
Não exigi nada, não criei doutrinas de relacionamento e nem mesmo
deixei escapar algum suspiro de medo.
Esqueci de revelar o quanto o silêncio me assombrava. – a garganta muda da menina soava-me como um grito ensurdecedor.
(Por favor, cale sua boca muda!)
Bastaria uma jura apenas – mas ela não conseguia me ouvir.
Tentei dizer um milhão de vezes para os seus olhos o quanto era importante sua presença nos meus dias.
(Contudo, o mundo lá fora censurava toda minha forma de comunicação.)
Escrevi tratados, lendas, poemas e até auto-ajuda para chamar sua atenção. Mas ela não me via, mas ela não me lia.
Sempre quando alguém chegava para dizer: Ela não presta! Eu sorria e respondia: Eu também não! – mas no fundo eu sabia que éramos diferentes.
(enquanto ela encenava o mundo, eu criava)
Bastaria apenas um dia. – pena que as milhares de desculpas foram capazes de criar uma muralha tão grande que já não consigo mais enxerga-la.
Bastaria ela: mas quem é ela? O quê é ela? Ela é?