Glória
Glória
Sandra Ravanini
Régia glória, eu a vi vencer o canto espinhal
cravado no meu peito, um antro tristonho
e silencioso coagulando os dez sonhos;
eu a vi despedaçar todo o mal do punhal.
E aqui sopro a comunhão; desmembro o errado
adorno virginal e amassando a argila
refino a areia rude, que agora desfila
a semelhança da graça e do pecado.
Se desabrocha ante o rancor a raiz do afago,
se a espada empunha só a impura desilusão,
o espinho há de untar a hóstia em rendição
quando o açude de éter brotar desse lago.
Régia vitória, flor castrando o lodaçal,
cavando em mim aqueles sonhos decimais;
eu a vi vencer gracejando aos espinhais,
amassando os pedaços untados de sal.
23/04/2005