CERIMÔNIA DO CHÁ

Cerimônia do chá

Terezinha Pereira

Dia desses, a mestramiga convidou suas discípulas

para, junto a ela, participarem de uma “cerimônia do chá”.

Que fossem de branco e que levassem lápis

de variadas cores e uma xícara desalada.

Seria para dividirem, além do chá, o silêncio das falas, as notas das melodias, olores e sabores diversos,

a diversidade das cores inventadas pelo deus que habita cada ser,

a partir da trindade primária dos pigmentos.

Além disso, precisariam colocar os pés no chão, pedregoso, áspero, atapetado e caminhar, passos lentos, à luz do fogo de velas, em direção

a seu eu interior e, nesse ponto, atinar o seu ponto da emoção.

Então, por isso mesmo, ninguém foi meio a esmo.

De primeiro, a mandala, cada uma delineada de um jeito,

em preto no papel branco, foi oferecida às convivas.

Era o momento de se usar as cores, pensar seus desejos,

Dos simples aos mais íntimos, ao som de música criada além mar.

E o tempo, o tempo, o tempo........ Esse se vai, despercebido. Nem mesmo

a mandala estava já coberta de cores, chegada era a hora de sentir os pés no chão. Dar os passos. Num silêncio de vozes, ao som de música

branda e pura, vinda de terra distante.

Num repente, voz desconhecida entremeia a música.

Chega para conduzir as caminheiras, em ajustado compasso,

ao destino daquele ir, meditar.

Singular momento........

Cada ser dentro de seu próprio ser, de seu deus,

criado à sua imagem-semelhança.

Não importa o nome: Deus, Jesus, Flor de Lótus,

Canjerê, Kyrie, Tupã, Javé, Ganesha, Buda........

Imóveis, olhos fechados, o toque de um sino, seguido da voz da mestra.

Chegara a hora do chá, do retornar ao mundo de fora do corpo.

No abrir dos olhos, vê-se o fogo de velas.

Não se pode dizer, se clareia ou penumbra o ambiente. Apazigua.

Cada uma, uma a uma, é convidada a buscar, na mesa posta,

sua xícara desalada e a seu lugar retornar.

A música que sai do aparelho de som , no servir do chá,

chaleira borbulhante, nesse momento é daqui da terra.

“Theotókos”, que para os do além mar é mãe de Deus,

chega ao som de instrumentos de Urbano Medeiros, que lhe deu vida.

Deveras.

Chegou no momento e no lugar perfeito para ser ouvida.

O sabor dos petiscos exigem, antes, o sentir do seu cheiro.

Disseram, as que lá estiveram, nunca haverem

compartilhado de banquete de tamanho apreço.

Nem faltou o sentir dos laços do abraço, da permuta dos ganhos.

Houve risos, lágrimas, ternura e muito mais. Um sentimento de paz.

E cada uma, praticamente sem dizer mesmo quase nada,

no findar da “cerimônia do chá”, saiu de lá, renovada.

E seu entranhado eu não ficou por isso mesmo.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 01/06/2008
Código do texto: T1014240