O mestre tecelão

Os borrões daquilo que outrora vi

Uma paleta de sonhos e de terrores secretos

Ou delicados fragmentos de um caleidoscópio?

Giro-os, constantemente, ficando assombrado

Pelas formações geométricas de sentido

Pelas escoriações que ressurgem das sombras do esquecido

Um cinza-chumbo-lágrima

Um amarelo-esverdeado repleto de ternura

Um verde-mar coroado pelo prateado, tão frágil que parece querer

[partir-se

Um azul celeste pontuado pelo branco que, de tão profundo, faz-me de

[imediato sonhar

Gostaria de, ao menos por um instante, compreender

As técnicas de tecelagem destes fios

A trama, a urdidura e os jogos com os espaços vazios

O demônio de Descartes revela-se nelas como um obstinado mestre do

[ofício de tecer