Todo mundo é lobo por dentro
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"Você me disse que eu sou petulante, né?
acho que sou sim, viu?
como a água que desce a cachoeira
e não pergunta se pode passar
você me disse que meu olho é duro como faca
acho que é sim, viu?
como é duro o tronco da mangueira
onde você precisa encostar
você me disse que eu destruo sempre
a sua mais romântica ilusão
e que destruo sempre com minha palavra
o que me incomodou
acho que é sim
como fere e faz barulho um bicho que se machucou, viu?"
(Oswaldo Montenegro)
Tenho os dentes mais raivosos
- quando em mim as palavras são ternas -
a voz alcança sons lentos, maviosos
e, sem mais, eu flexiono as pernas;
e aí eu mordo e arranco sangue
uivando minha fúria mais doce
deixando a caça toda exangue
como se de papel fosse.
E é ali que a poesia brota
que a canção grita no fio
rascante como roupa rota
sinuosa como água de rio;
e farejo e me esgueiro e instigo
arreganho os caninos
no bailar do trigo
de versos meninos
e sigo morro acima entre as cobras
outros bichos que, como eu,
atacam quando feridos, não deixam sobras
e seguem altivos como quem não morreu.
Simultâneo:
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