Destino

Busquei nos búzios

uma resposta

à minha aposta

de abrir tua concha hermética

e extrair a pérola luzidia

de um olhar particular,

daqueles que acendem

a luz do dia mais frenética

em plena noite sem luar.

Abri cartas de um tarô egípcio

buscando o duende fictício

que tem embaralhado minha atenção.

Desprezei as runas, mentirosas,

por plantarem nas dunas aquelas rosas

que pra ti cultivei com dedicação.

Aceitei a mão de uma cigana,

mas desconfio que ela me engana

ao não ler teu nome em minhas linhas,

ou teu sobrenome, em xícaras minhas,

ou tua luz sem igual

na tola bola de cristal.

Mapeei astros e estrelas

por entre trânsitos planetários

e efemérides perdido,

buscando para teu signo

outro significado

do que aquele fornecido

nos horóscopos dos deuses

e dos otários.

Xinguei o I Ching

que com seu trigrama obscuro

revelou-me estar no escuro

com tanto ainda a decifrar.

Balancei, diante do pêndulo,

vibrando na expectativa

de encontrar-me na tua vida.

Mas nem os vedores da radiestesia

anularam os vetores dessa energia

que se esvai de meu coração.

Não te viu nenhuma vidente,

pomba-gira ou cartomante,

antes, hoje ou à frente,

como sendo minha amante.

Nós dois não seríamos um par

a se acreditar na numerologia.

Nossas vidas, paralelas sem se cruzar,

segundo as linhas da grafologia.

Rasguei a fantasia

de toda previsão ou profecia

por não poderem te encontrar.

Vesti-me, determinado,

da intenção de estar ao teu lado

e sei que um dia vou te achar.

Mais do que estar predestinado

nosso futuro é arbitrado

pelo amor que temos a dar.