UMA DIVINDADE EM CAXIAS - CONDOR AMIGO (1972)
Naquela tardinha, chovia, chovia,
Entre as palhoças dos palmeias,
Os bem-te-vis cantavam,
Revoando e assustados.
Como se estivessem assombrados,
Ouvi um barulho extraordinário,
Arrebatou entre as palmeiras,
Corri até lá, bem apressado.
Olhei entre as palhas verdes,
Era algo muito grande,
Fiquei com bastante medo,
Ouvindo aqueles gemidos.
Tirei os chinelos e pisei macio,
Arregacei a minha calça,
Passei pelas unhas de gato,
E me aproximei do inusitado.
Parecia um monstro caído,
De outro planetário de vida,
Eu não sabia o que era,
Se realmente era uma fera.
Com os olhos abertos,
E de íris de cor amarronzado,
Outrora amarelado,
Agonizava suas asas entre os matos.
Eu vi os seus dedos fortes,
Entre as patas largas e unhas,
Um bico cortante,
Com uma crista de pluma.
Aproximei do absurdo,
Vi, numa das asas muito sangue,
Tive medo e muito horror,
Sem saber o que fazer.
Novamente, olhei, olhei...
E percebi do que se tratava,
Uma ave de tamanho descomunal,
Soluçando e derramando sangue.
Um gigante lá no Ouro Vverde,
Combatido e sem forças,
Caído no matagal,
Quase do meu tamanho.
Ó que monstruosidade!
Parecia um grande rei,
Um comandante dos céus,
Um avião ou planador.
Tal bicho ao ver minha sombra,
Bateu uma asa gigante,
Olhei o seu ferimento,
E me doei demais.
Um buraco do tamanho de um copo,
Aquele pássaro me olhava,
Com o bico sobre o chão,
Piscando, piscando seu olho,
Na minha direção.
Uma gotícula incolor escorreu,
Daquele olho piscando,
E olhei a tristeza vazar,
Entre minhas palmeiras.
Aquela fera no chão,
Sem nenhum amparo,
Pondo-me em emoção,
Fazendo sofrer o meu coração.
Sua linda plumagem,
Refletia uma cor negra azulada,
E um desvio no pescoço,
Que parecia um colar de cor branca.
Parecia com um gavião,
Uma monstruosidade de pássaro,
Fui até na frente do bicho,
E falei que mal eu não iria fazer.
Passei a mão direita na cabeça,
Deslizando por várias vezes,
Os bem-te-vis cantavam,
Nas palhas das palmeiras.
Balançavam, balançavam,
E mergulhavam em voos,
Rasantes que me assustavam,
Cantavam bem-te-vi, bem-te-vi
O beija-flor que ia passando,
Todo azulado pairou no ar,
Deu marcha a ré,
Silenciosamente partiu.
As rolinhas ou fogo – pagou,
Ciscavam o chão,
Cobrindo os meus rastros,
Pra livrar dos caçadores.
Que adiante podiam perceber,
E tudo estaria perdido,
Eram muitas rolinhas,
Todas laborando em prol da ave.
Lá no alto do pau pombo seco,
Parecia um senhor,
De terno preto,
E chapéu vermelho.
Nas últimas galhas,
Parecia uma estátua,
Olhando tudo e tudo,
Era o urubu rei.
Veio fazer sentinela,
Segurança àquela ave,
Jogada no chão,
Sozinha e lastimada.
As almas de gato,
Cantavam e pulavam,
De galho em galho,
E não saiam de perto.
Àquele pássaro não era feroz,
E nem parecia ser predador,
Demonstrei logo, logo,
O seu melhor amigo.
E os meus bem-te-vis gorjeavam,
Em volta das palmeiras,
Como se estivessem felizes,
Aprofundando seus voos,
Entre o céu e as palmeiras.
Vi que o amigo tinha sede,
Fui até o riacho dos cocos,
Com um balde na mão,
Mergulhei e retirei água,
Abri seu grande bico,
E derramei água de montão,
Balançava a cabeça,
A agradecendo com emoção.
Peguei o meu único cambo de peixes,
Enfileirados na palha de babaçu,
Puxei do cambo as piabas e lhe dei,
Cujas piabas pra casa ia levar,
Pois era o nosso jantar.
O bicho não quisera as piabas,
Observei que a dor era insuportável,
O sofrimento era de pesar,
Tive comiseração daquela ave.
Fui correndo na monareta,
Em pedaladas rápidas,
Para Caxias comprar,
Um remédio pra lhe curar.
Joguei a bicicletinha no acostamento,
Adentrei na Farmácia Santa Terezinha,
E pedi para Dindinha Jesus,
Que na farmácia trabalhava lá.
Na Praça Gonçalves Dias,
Com suas palmeiras imensas,
Ali eu ouvia, ouvia, ouvia,
Um bem-te-vi em minha companhia.
Cantava e revoava por cima,
Daquelas palhas esmeraldinas,
Balançando e apressado,
Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
Olhei para o alto da palmeira,
E Dindinha Jesus me procurou,
Quem estava doente lá em casa,
Eu disse que era para o vizinho,
Que cortou o pé com casco de garrafa.
Ela me entregou,
Um frasco com mercúrio cromo,
E me disse:
Vou perguntar pra tua mãe,
Se é verdade mesmo.
Dindinha Jesus! Fique tranquila!
Não se preocupe com nada,
Amanhã, na volta do mercado,
Eu vou correndo lhe pagar.
Subi pela Rua Benedito Leite,
Passei pelo Campo da Liga,
Até chegar ao colégio,
Nossa Senhora dos Remédios.
Pensei em comprar no Zé Pinto,
Um péssimo comerciante,
Mais ele não vendia fiado,
Pra depois pagar no clarear do dia.
Adentrei no comercio do seu Né,
E pedi um quilo de tapioca,
Para anotar no caderno,
Que a mamãe vai pagar.
O bem-te-vi me acompanhava,
Cantando, cantando, bem-te-vi,
E os moleques da rua,
De baladeira querendo acertar.
O meu bem-te-vi mergulhava,
Em voos rasantes com acrobacia,
Encobrindo-se na árvore,
Do comércio do seu Né.
Atravessei o largo de São Sebastião,
Muito aflito e pensativo,
Desci pela Rua da Tangerina,
Passei pelo Circo Garcia.
Que estava no largo,
Do Cemitério São Benedito,
Apressado e meditativo,
Atravessei a linha férrea.
A monareta se esquiava na areia,
Com cada pedalada,
A corrente caía,
E cada vez eu me desesperava.
O tempo passava,
E a distância me impedia,
De socorrer o pássaro amigo,
Que parecia ser de outras bandas.
Pisei dentro do Aeroporto,
E lá um avião chegava,
Joguei a monareta na areia,
E fui buscar a caixinha de sanduíche,
Que o aviador dava para os meninos.
Peguei a caixinha no empurrão,
Dei logo uma cotovelada,
E desci rumando para o Matadouro Velho,
Nas cercanias do Cemitério das Pedras.
E caminhei mato adentro,
Empurrando a minha monareta,
Até chegar no Ouro Verde,
Pelo lado do Rio Itapecuru.
Lá estava o bicho grande,
Fiz logo uma gororoba,
De mastruz com tapioca,
Misturado com mercúrio.
Passei no buraco aberto,
E amassei delicadamente,
Com muita cautela,
Na monstruosidade de asa.
Retirei a minha camisa,
E achava que não poderia perder,
Mas dei para o pássaro com gratidão,
Pois, ele se tornou um amigão.
Uma camisa que ganhei do candidato,
Ilustre de Caxias “Afonso Barata”
E juntei no ferimento da ave,
Com toda a minha dedicação.
Ao seu lado fiz uma casinha,
Com palhas de babaçu,
Protegendo e garantido,
O sossego de viver.
Aos longos dos dias,
Seus ferimentos ficaram sarados,
E o pássaro chamava-se Condor,
E a partir daí ficou Condor Amigo.
Sentir que o Condor Amigo,
Tinha o desejo de partir,
Eu gostaria de ficar com ele,
Porém, não poderia evitar o seu voo.
Bramou entre as palmeiras,
E me disse que fizera,
Uma grande viagem,
Até chegar ao Brasil.
E que vinha da Argentina,
Das bandas da Terra do Fogo,
Lá do cume do Aconcágua,
Pois, estava muito cansado.
Falou-me que passou,
Pelo Pico da Neblina,
E atravessou o Pico da Bandeira,
Sobrevoou o Morro do Alecrim.
Disse que não tinha medo,
Da fome e da sede,
Era acostumado,
A passar meses sem se alimentar,
E que não perde o seu vigor físico.
E que no seu país Andino,
Viaja centenas de quilômetros,
Atrás de alimentos,
Sem se cansar,
Que sua fama é nas montanhas,
E que não sabe,
Como veio cair entre as palmeiras,
Da Princesa do Sertão.
Lembra-se que estava passando,
Pelo Estado do Pará,
Aspirava descer na Amazônia,
Dizem ser bonito por lá.
Um caçador infame,
Atirou nas suas asas,
Jamais pensou ser um alvo,
Por pura malvadeza humana.
Assim mesmo ferido,
Perdeu o destino,
E encontrou um grande amigo,
Que lhe ajudou a salvar.
Disse rebatendo suas asas gigantes,
Que sua espécie está em extinção,
Por isso vivemos nos altos das montanhas,
Pra ninguém se arriscar e chegar lá.
Sou um jovem andino,
Tenho apenas setenta e seis anos,
Ainda está longe dos cem anos,
Quando completa a minha idade final.
Quando estes cem anos chegar,
Já estarei cansado e debilitado,
Vou levantar voo,
Nas grandes altitudes,
Depois descer em grande velocidade.
De lá de cima, olho uma montanha,
E mergulho rumo a ela,
Fecho os meus olhos,
E me lanço contra as rochas.
És tu o Erasmo Shallkytton,
Meu poeta Caxiense!
É assim a vida de um condor,
Ao fim de uma centena de anos,
Sobrevoando os céus andinos,
Chega-se o meu fim.
Condor Amigo!
Eu sempre gostei de te olhar,
Nas figurinhas de álbuns,
E também no Cine Rex.
Quando apresentava Condor Filmes,
Eu ficava na cadeira admirando o teu voo,
E a criançada assobiando,
Mandando-te voar.
Os Incas sempre me deram valor,
Fui para eles uma divindade,
Tive até templos e cultos,
Tudo, tudo em minha homenagem.
Hoje, os homens me perseguem,
Sobem até no cume do Aconcágua,
Procuram por meus ninhos,
E levam até os filhotes.
Mas um dia meu poeta!
Farei, tu o poeta Andino,
O poeta das alturas,
O poeta das Américas,
Sei que na tua terra,
Não te dão valor,
Chegará um dia,
Que a minha Argentina,
Farás tuas poesias voarem.
Vou levar a tua imagem,
Dentro da minha alma,
E toda a minha raça,
Vai glorificar-te como o nosso poeta.
Um brasileiro que me salvou,
Fez de sua camisa querida,
O salva guarda de minha emoção,
E lutes para que Caxias,
Seja sempre a Princesa do Sertão.
Vou passar na Venezuela,
E dar notícias aos meus irmãos,
Que em Caxias do Maranhão,
Encontrei um pequeno menino,
De coração de homem grande.
Que nestes teus doze anos,
Sejas sempre assim,
Um bradador de verdades,
Um bradador de Caxias,
Um bradador do Condor Amigo.
Vou passar pelas terras Altas do Peru,
E deixar notícias tuas,
Pelo Vale Cuzco,
E também em Machupicchu.
Não demorou o Condor Amigo,
Levantou voo açoitando e planando,
Nos céus de Caxias do Maranhão,
Partiu a divindade do céu e da terra,
Deixando o poeta lagrimando.
(LEIA A POESIA POR UN GRAN AMOR)
ESTE MESMO CONDOR SALVA A VIDA DO POETA NO ACONCÁGUA)
Naquela tardinha, chovia, chovia,
Entre as palhoças dos palmeias,
Os bem-te-vis cantavam,
Revoando e assustados.
Como se estivessem assombrados,
Ouvi um barulho extraordinário,
Arrebatou entre as palmeiras,
Corri até lá, bem apressado.
Olhei entre as palhas verdes,
Era algo muito grande,
Fiquei com bastante medo,
Ouvindo aqueles gemidos.
Tirei os chinelos e pisei macio,
Arregacei a minha calça,
Passei pelas unhas de gato,
E me aproximei do inusitado.
Parecia um monstro caído,
De outro planetário de vida,
Eu não sabia o que era,
Se realmente era uma fera.
Com os olhos abertos,
E de íris de cor amarronzado,
Outrora amarelado,
Agonizava suas asas entre os matos.
Eu vi os seus dedos fortes,
Entre as patas largas e unhas,
Um bico cortante,
Com uma crista de pluma.
Aproximei do absurdo,
Vi, numa das asas muito sangue,
Tive medo e muito horror,
Sem saber o que fazer.
Novamente, olhei, olhei...
E percebi do que se tratava,
Uma ave de tamanho descomunal,
Soluçando e derramando sangue.
Um gigante lá no Ouro Vverde,
Combatido e sem forças,
Caído no matagal,
Quase do meu tamanho.
Ó que monstruosidade!
Parecia um grande rei,
Um comandante dos céus,
Um avião ou planador.
Tal bicho ao ver minha sombra,
Bateu uma asa gigante,
Olhei o seu ferimento,
E me doei demais.
Um buraco do tamanho de um copo,
Aquele pássaro me olhava,
Com o bico sobre o chão,
Piscando, piscando seu olho,
Na minha direção.
Uma gotícula incolor escorreu,
Daquele olho piscando,
E olhei a tristeza vazar,
Entre minhas palmeiras.
Aquela fera no chão,
Sem nenhum amparo,
Pondo-me em emoção,
Fazendo sofrer o meu coração.
Sua linda plumagem,
Refletia uma cor negra azulada,
E um desvio no pescoço,
Que parecia um colar de cor branca.
Parecia com um gavião,
Uma monstruosidade de pássaro,
Fui até na frente do bicho,
E falei que mal eu não iria fazer.
Passei a mão direita na cabeça,
Deslizando por várias vezes,
Os bem-te-vis cantavam,
Nas palhas das palmeiras.
Balançavam, balançavam,
E mergulhavam em voos,
Rasantes que me assustavam,
Cantavam bem-te-vi, bem-te-vi
O beija-flor que ia passando,
Todo azulado pairou no ar,
Deu marcha a ré,
Silenciosamente partiu.
As rolinhas ou fogo – pagou,
Ciscavam o chão,
Cobrindo os meus rastros,
Pra livrar dos caçadores.
Que adiante podiam perceber,
E tudo estaria perdido,
Eram muitas rolinhas,
Todas laborando em prol da ave.
Lá no alto do pau pombo seco,
Parecia um senhor,
De terno preto,
E chapéu vermelho.
Nas últimas galhas,
Parecia uma estátua,
Olhando tudo e tudo,
Era o urubu rei.
Veio fazer sentinela,
Segurança àquela ave,
Jogada no chão,
Sozinha e lastimada.
As almas de gato,
Cantavam e pulavam,
De galho em galho,
E não saiam de perto.
Àquele pássaro não era feroz,
E nem parecia ser predador,
Demonstrei logo, logo,
O seu melhor amigo.
E os meus bem-te-vis gorjeavam,
Em volta das palmeiras,
Como se estivessem felizes,
Aprofundando seus voos,
Entre o céu e as palmeiras.
Vi que o amigo tinha sede,
Fui até o riacho dos cocos,
Com um balde na mão,
Mergulhei e retirei água,
Abri seu grande bico,
E derramei água de montão,
Balançava a cabeça,
A agradecendo com emoção.
Peguei o meu único cambo de peixes,
Enfileirados na palha de babaçu,
Puxei do cambo as piabas e lhe dei,
Cujas piabas pra casa ia levar,
Pois era o nosso jantar.
O bicho não quisera as piabas,
Observei que a dor era insuportável,
O sofrimento era de pesar,
Tive comiseração daquela ave.
Fui correndo na monareta,
Em pedaladas rápidas,
Para Caxias comprar,
Um remédio pra lhe curar.
Joguei a bicicletinha no acostamento,
Adentrei na Farmácia Santa Terezinha,
E pedi para Dindinha Jesus,
Que na farmácia trabalhava lá.
Na Praça Gonçalves Dias,
Com suas palmeiras imensas,
Ali eu ouvia, ouvia, ouvia,
Um bem-te-vi em minha companhia.
Cantava e revoava por cima,
Daquelas palhas esmeraldinas,
Balançando e apressado,
Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
Olhei para o alto da palmeira,
E Dindinha Jesus me procurou,
Quem estava doente lá em casa,
Eu disse que era para o vizinho,
Que cortou o pé com casco de garrafa.
Ela me entregou,
Um frasco com mercúrio cromo,
E me disse:
Vou perguntar pra tua mãe,
Se é verdade mesmo.
Dindinha Jesus! Fique tranquila!
Não se preocupe com nada,
Amanhã, na volta do mercado,
Eu vou correndo lhe pagar.
Subi pela Rua Benedito Leite,
Passei pelo Campo da Liga,
Até chegar ao colégio,
Nossa Senhora dos Remédios.
Pensei em comprar no Zé Pinto,
Um péssimo comerciante,
Mais ele não vendia fiado,
Pra depois pagar no clarear do dia.
Adentrei no comercio do seu Né,
E pedi um quilo de tapioca,
Para anotar no caderno,
Que a mamãe vai pagar.
O bem-te-vi me acompanhava,
Cantando, cantando, bem-te-vi,
E os moleques da rua,
De baladeira querendo acertar.
O meu bem-te-vi mergulhava,
Em voos rasantes com acrobacia,
Encobrindo-se na árvore,
Do comércio do seu Né.
Atravessei o largo de São Sebastião,
Muito aflito e pensativo,
Desci pela Rua da Tangerina,
Passei pelo Circo Garcia.
Que estava no largo,
Do Cemitério São Benedito,
Apressado e meditativo,
Atravessei a linha férrea.
A monareta se esquiava na areia,
Com cada pedalada,
A corrente caía,
E cada vez eu me desesperava.
O tempo passava,
E a distância me impedia,
De socorrer o pássaro amigo,
Que parecia ser de outras bandas.
Pisei dentro do Aeroporto,
E lá um avião chegava,
Joguei a monareta na areia,
E fui buscar a caixinha de sanduíche,
Que o aviador dava para os meninos.
Peguei a caixinha no empurrão,
Dei logo uma cotovelada,
E desci rumando para o Matadouro Velho,
Nas cercanias do Cemitério das Pedras.
E caminhei mato adentro,
Empurrando a minha monareta,
Até chegar no Ouro Verde,
Pelo lado do Rio Itapecuru.
Lá estava o bicho grande,
Fiz logo uma gororoba,
De mastruz com tapioca,
Misturado com mercúrio.
Passei no buraco aberto,
E amassei delicadamente,
Com muita cautela,
Na monstruosidade de asa.
Retirei a minha camisa,
E achava que não poderia perder,
Mas dei para o pássaro com gratidão,
Pois, ele se tornou um amigão.
Uma camisa que ganhei do candidato,
Ilustre de Caxias “Afonso Barata”
E juntei no ferimento da ave,
Com toda a minha dedicação.
Ao seu lado fiz uma casinha,
Com palhas de babaçu,
Protegendo e garantido,
O sossego de viver.
Aos longos dos dias,
Seus ferimentos ficaram sarados,
E o pássaro chamava-se Condor,
E a partir daí ficou Condor Amigo.
Sentir que o Condor Amigo,
Tinha o desejo de partir,
Eu gostaria de ficar com ele,
Porém, não poderia evitar o seu voo.
Bramou entre as palmeiras,
E me disse que fizera,
Uma grande viagem,
Até chegar ao Brasil.
E que vinha da Argentina,
Das bandas da Terra do Fogo,
Lá do cume do Aconcágua,
Pois, estava muito cansado.
Falou-me que passou,
Pelo Pico da Neblina,
E atravessou o Pico da Bandeira,
Sobrevoou o Morro do Alecrim.
Disse que não tinha medo,
Da fome e da sede,
Era acostumado,
A passar meses sem se alimentar,
E que não perde o seu vigor físico.
E que no seu país Andino,
Viaja centenas de quilômetros,
Atrás de alimentos,
Sem se cansar,
Que sua fama é nas montanhas,
E que não sabe,
Como veio cair entre as palmeiras,
Da Princesa do Sertão.
Lembra-se que estava passando,
Pelo Estado do Pará,
Aspirava descer na Amazônia,
Dizem ser bonito por lá.
Um caçador infame,
Atirou nas suas asas,
Jamais pensou ser um alvo,
Por pura malvadeza humana.
Assim mesmo ferido,
Perdeu o destino,
E encontrou um grande amigo,
Que lhe ajudou a salvar.
Disse rebatendo suas asas gigantes,
Que sua espécie está em extinção,
Por isso vivemos nos altos das montanhas,
Pra ninguém se arriscar e chegar lá.
Sou um jovem andino,
Tenho apenas setenta e seis anos,
Ainda está longe dos cem anos,
Quando completa a minha idade final.
Quando estes cem anos chegar,
Já estarei cansado e debilitado,
Vou levantar voo,
Nas grandes altitudes,
Depois descer em grande velocidade.
De lá de cima, olho uma montanha,
E mergulho rumo a ela,
Fecho os meus olhos,
E me lanço contra as rochas.
És tu o Erasmo Shallkytton,
Meu poeta Caxiense!
É assim a vida de um condor,
Ao fim de uma centena de anos,
Sobrevoando os céus andinos,
Chega-se o meu fim.
Condor Amigo!
Eu sempre gostei de te olhar,
Nas figurinhas de álbuns,
E também no Cine Rex.
Quando apresentava Condor Filmes,
Eu ficava na cadeira admirando o teu voo,
E a criançada assobiando,
Mandando-te voar.
Os Incas sempre me deram valor,
Fui para eles uma divindade,
Tive até templos e cultos,
Tudo, tudo em minha homenagem.
Hoje, os homens me perseguem,
Sobem até no cume do Aconcágua,
Procuram por meus ninhos,
E levam até os filhotes.
Mas um dia meu poeta!
Farei, tu o poeta Andino,
O poeta das alturas,
O poeta das Américas,
Sei que na tua terra,
Não te dão valor,
Chegará um dia,
Que a minha Argentina,
Farás tuas poesias voarem.
Vou levar a tua imagem,
Dentro da minha alma,
E toda a minha raça,
Vai glorificar-te como o nosso poeta.
Um brasileiro que me salvou,
Fez de sua camisa querida,
O salva guarda de minha emoção,
E lutes para que Caxias,
Seja sempre a Princesa do Sertão.
Vou passar na Venezuela,
E dar notícias aos meus irmãos,
Que em Caxias do Maranhão,
Encontrei um pequeno menino,
De coração de homem grande.
Que nestes teus doze anos,
Sejas sempre assim,
Um bradador de verdades,
Um bradador de Caxias,
Um bradador do Condor Amigo.
Vou passar pelas terras Altas do Peru,
E deixar notícias tuas,
Pelo Vale Cuzco,
E também em Machupicchu.
Não demorou o Condor Amigo,
Levantou voo açoitando e planando,
Nos céus de Caxias do Maranhão,
Partiu a divindade do céu e da terra,
Deixando o poeta lagrimando.
(LEIA A POESIA POR UN GRAN AMOR)
ESTE MESMO CONDOR SALVA A VIDA DO POETA NO ACONCÁGUA)